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Movimento Mundial dos Padres Católicos Casados -- Luís Guerreiro

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O Movimento dos Padres Casados (MPC) do Brasil faz parte do Movimento Mundial dos Padres Católicos Casados, movimento que reúne aproximadamente 150.000 padres dispensados do ministério pelo simples fato de terem decidido casar.

Antes do Concílio Vaticano II, as dispensas do celibato clerical eram raras. Roma só as concedia em casos excepcionais. A situação mudou desde 1964, quase fins do Concílio, quando foram estabelecidas normas mais suaves, nunca publicadas. Depois, em 1970/1971, Paulo VI introduziu novas normas, facilitando com isso, ainda mais, a concessão de dispensas. Assustado com a vaga de desistências, o seu sucessor, João Paulo II, querendo refreá-las, impôs fortes restrições. Em vão. De uma forma ou de outra, o êxodo continuou, embora talvez em número menos expressivo que na década de 1970.

Os que partiam, excluídos do ministério, não por infringirem qualquer preceito evangélico, mas por não aceitarem mais a lei canônica da obrigação do celibato clerical, estavam conscientes de que a sua decisão transcendia o simples caso pessoal: refletia uma situação de Igreja que era preciso superar. E logo formaram grupos nacionais cuja finalidade era, não só a ajuda mútua imediata numa travessia tantas vezes traumática, como também a formação de um movimento de cariz profético, a clamar por mudanças que trouxessem mais liberdade à Igreja e um maior espaço à ação inovadora do Espírito. Havia, entre outras, a convicção, nascida da própria experiência, de que, se o celibato opcional, definitivo ou temporário, permitia uma maior disponibilidade ao serviço do Reino, o casamento aproximava muito mais o padre dos problemas reais dos homens. O casamento do padre não significava empobrecimento, mas enriquecimento para a Igreja.

Encontros internacionais
Foi para reforçar e universalizar a sua ação que esses grupos nacionais começaram a organizar encontros internacionais. E era também o que se pretendia, quando foi criada, em 1986, em Paris, a Federação Internacional dos Padres Católicos Casados.

Para se fazer uma idéia das preocupações da organização mundial dos padres casados, nada como lembrar aqui a temática dos sínodos e congressos internacionais.

Chiusi, Itália, 1983: Por iniciativa do grupo italiano “Unione Sacerdoti Familiari Cattolici”, cerca de meia centena de padres casados da Itália, Espanha, França, Alemanha, Holanda, Brasil, África do Sul, Estados Unidos e Hong Kong, reuniam-se em Chiusi, Itália, numa espécie de sínodo. Foi assim que designaram, usando um termo eclesiástico, este e outros encontros posteriores. Mesmo quando, em 1987, se optou por um nome mais secular – congresso internacional – as reuniões sinodais prosseguiram paralelamente, alentadas por um sonho assaz quimérico, o da realização de um grande sínodo em Jerusalém que nunca chegaria a acontecer.

Neste primeiro encontro, não havia um tema, mas uma temática abrangente que englobava, entre outros, estes pontos: o sínodo reconhece o valor do celibato escolhido e vivido como carisma e conselho evangélico; Deus pode chamar a mesma pessoa ao sacerdócio e ao matrimônio, não tendo a Igreja o direito de se opor a este desígnio divino; dadas as necessidades presentes, é indispensável reintegrar oficialmente ao ministério presbiteral os padres casados que o desejarem; a Igreja deve levar em conta os carismas femininos e facilitar a plena promoção da mulher na Igreja, tal como está a acontecer na sociedade civil.

Na mensagem enviada ao Papa João Paulo II, os participantes declaravam: “Nós, que cremos em Cristo e na Igreja assente no Apóstolo Pedro, encontramo-nos reunidos num Sínodo de famílias sacerdotais, representando grupos e movimentos do mundo inteiro. É um sínodo que queremos inserido e vivido na Igreja e não uma manifestação marginal de protesto, organizada por sacerdotes casados excluídos do ministério”.

Ariccia, Itália, 1985: Neste encontro, havia um tema. Debateu-se a “compatibilidade entre Sacerdócio e Matrimônio”. Tendo os sacramentos da Igreja tido a mesma origem, Cristo, sacerdócio e matrimônio não podem ser incompatíveis. Por isso, há de ser possível, tanto na Igreja do Oriente como na do Ocidente, que uma mesma pessoa os receba.

Ariccia, Itália, 1987: Foi o primeiro congresso internacional. Desenvolveu o tema: “Padres casados e novas formas de ministério”. Segundo a declaração final, o congresso não reivindicava nada; os padres e suas esposas queriam apenas apresentar à Igreja, Povo de Deus, as suas experiências e a sua nova forma de servir. Não questionavam o celibato carismático; só queriam mostrar o que outro tipo de padre podia oferecer como sinal da grande variedade de ministérios.

Doorn, Holanda, 1990: Tema: “Um ministério novo para um mundo novo”. Seu objetivo era, em comunhão com toda a família humana, empenhar-se em construir um mundo novo e uma Igreja onde a liberdade, a solidariedade, os direitos humanos e a justiça social alcançassem a sua plenitude.

Madrid, Espanha, 1993: Escolhido como tema: “Os padres casados aos serviço do Povo de Deus”. O objetivo do congresso era compartilhar experiências em busca de uma nova Igreja e apresentar múltiplas formas de servir a sociedade humana. Constatou-se que havia padres casados que continuavam a exercer o ministério pastoral-presbiteral, tanto em sua vertente missionária como na vertente celebrativa e organizacional; e que as mulheres celebravam e presidiam com frequência os sacramentos da vida..

Brasília, Brasil, 1996: Seu tema central: “Ministérios para o terceiro milênio”. A Igreja institucional é uma realidade histórica que, ao longo do tempo, assumiu várias formas culturais. Agora, para ser fiel aos sinais dos tempos, há de inserir-se na cultura do povo, na democracia participativa e na comunidade. O nosso casamento é uma porta que se abre aos novos ministérios que o Espírito de Deus nos reservou na Igreja. Nosso ministério maior é viver a fé com as irmãs e irmãos dispersos, sobretudo os excluídos. Nós nos inserimos na vida familiar, nas comunidades e nos movimentos sociais do Povo de Deus. São estas algumas das afirmações do seu documento final.

Atlanta, Estados Unidos, 1999: Tema: “Direitos humanos e reconciliação”. Uma decepcionante constatação: a Igreja Católica Romana institucional não reconhece nem promove os direitos humanos dos seus membros. Existe uma dicotomia entre o que o Vaticano prega ao mundo e o que pratica no seio da Igreja: o celibato obrigatório viola o direito inalienável ao casamento, um direito original que, segundo Pio XI (Casti Connubii), “nenhuma lei humana pode arrebatar ao povo”; numa época em que os direitos humanos das mulheres têm sido tão fortemente enfatizados, o Vaticano, ao mesmo tempo que declara que as mulheres devem ser reconhecidas como iguais, não está disposto a conceder-lhes uma autoridade igual na Igreja; o Concílio Vaticano II falou da colegialidade, mas o Papa não segue os seus ensinamentos; o mesmo Concílio exigiu o reconhecimento do “sensus fidelium” do laicado (Lumen Gentium, 12), mas isso não é acatado; exigiu também que os bispos não fossem considerados como vigários do Papa, mas antes como embaixadores de Cristo (Lumen Gentium, 27) e isso não é respeitado. É por isso que este congresso pede à Igreja institucional uma reconciliação em seu próprio seio, bem como o reconhecimento dos direitos humanos de todos os seus membros.

Biesbaden-Naurod, Alemanha, 2005: Discutiu o tema: “Renovação dos ministérios e serviços hoje”. Realizou-se de 16 a 19 de setembro. 67 participantes, provenientes da Alemanha, Espanha, Estados Unidos, França, Canadá, Bélgica, Reino Unido, Países Baixos, Índia, Áustria, Itália, Brasil, Filipinas e Paraguai. Estiveram também presentes duas das três bispas há pouco sagradas secretamente por um bispo católico ainda em exercício: Gisela Forster, alemã, teóloga, casada com um ex-beneditino, e Patrícia Freesen, sul-africana, também teóloga, quarenta anos dominicana, expulsa da ordem, quando ordenada presbítera.

Na declaração final, os participantes afirmaram ter chegado a uma compreensão mais aprofundada da questão do acesso da mulher à ordenação sacerdotal; sentirem-se rejuvenescidos para colaborar na renovação da Igreja dentro do espírito do concílio Vaticano II; e estarem dispostos a empenhar-se na busca de novas formas de ser Igreja e de novos ministérios.

Atestavam, ao mesmo tempo, o seu amor e fidelidade à Igreja, negando querer construir uma Igreja paralela. Endereçando uma carta ao Papa e ao Sínodo dos Bispos, prestes a acontecer, reivindicavam reiteradamente a abolição do celibato obrigatório.

Os participantes representavam 25 associações nacionais e quatro continentes. E um dos objetivos deste Congresso era também a reestruturação da agremiação mundial dos padres casados. Isso já vinha acontecendo. Restava consolidar o já feito e introduzir ainda algumas mudanças.

Reestruturação da Federação Internacional
Com o decorrer dos anos, diferenças e conveniências peculiares levaram à criação de várias federações regionais, dentro da Federação Internacional: Federação Filipina de Padres Católicos Casados (Filipinas); Federação Latinoamericana para um Ministério Sacerdotal Renovado (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru); Federação do Atlântico Norte para um Sacerdócio Católico Renovado (Áustria, Bélgica, Canadá, República Checa, Alemanha, Irlanda, Holanda, Estados Unidos); Federação Europeia de Padres Católicos Casados (Bélgica, Inglaterra, França, Itália, Espanha).

A partir do Congresso de Biesbaden-Naurod, a Federação Internacional dos Padres Católicos Casados passaria a denominar-se Confederação Internacional dos Padres Católicos Casados. Sua finalidade seria “promover e fortalecer a cooperação mútua entre os grupos, ativar o crescimento do movimento internacional por meio da renovação dos ministérios e serviços na Igreja, impulsionar o intercâmbio de experiências pastorais e apoiar, na medida do possível, o trabalho dos grupos confederados”. Seria coordenada por um comitê central cuja incumbência seria a de orientar a ação comum num plano global.

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